O desmonte da quadrilha de
contrabandistas, comandada pelo empresário e político Rogério Garcia,
ex-vice-prefeito de São Mateus, foi um duro golpe em um dos braços do crime organizado
do Maranhão.
Uma ação que já levou para a cadeia 13
supostos envolvidos, dentre eles um advogado, um delegado, um coronel, um major e outros
policiais, além mais um coronel que estaria foragido, suspeitos de dar
proteção aos criminosos.
E tem muitos mais a ser revelado: quem
seriam os dois deputados e um secretário, citados em conversa de Rogério Garcia
com um suposto comparsa? Até agora, nenhuma revelação dessas figuras de proa que
dariam proteção a esses criminosos que contrabandeavam mercadorias vindas do
Suriname.
Se essas mercadorias vinham do Suriname,
de que forma chegavam à Ilha de São Luís? Em navios e depois colocadas em
barcos menores que atracavam no porto do Arraial, nos fundo de um sítio no
Quebra Pote? Haverá alguma fiscalização na área do Porto do Itaqui?
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A operação de desmonte da quadrilha de contrabandistas tem o comando do secretário de Segurança, Jefferson Portela |
Não é a primeira vez que se desmonta uma
grande organização criminosa no Maranhão. Na década de 1990, outra grande ação
desmontou uma grande quadrilha que contava com a participação de dois
parlamentares, que terminaram cassados. Responsável pelo comando das operações,
o delegado Stênio Mendonça terminou assassinado na Avenida Litorânea.
Os deputados José Gerardo de Abreu e
Francisco Caíca foram cassados por falta de decoro parlamentar, acusados como
líderes do crime organizado no Estado. A Comissão Parlamentar de Inquérito do
Crime Organizado realizou trabalhos de investigação, iniciados em meados de
1999, com o objetivo de apurar crimes que à época vinham se avolumando à sombra
da impunidade.
Além da cassação dos mandatos de Zé
Gerardo e Chico Caíca, a CPI do Crime Organizado foi encerrada, no final de
novembro de 1999, com o pedido de indiciamento de 53 pessoas, entre elas o
ex-deputado Hemetério Weba, cinco prefeitos, 10 policiais e ex-policiais, dois
empresários, além de bandidos reconhecidamente envolvidos com crimes no Estado.
Na ocasião em que perdeu o mandato, Zé
Gerardo era investigado em 10 inquéritos pela Polícia Civil, acusado de
participar de roubo de caminhões e de ser mandante de nove assassinatos.
Os dois inquéritos que originaram os
pedidos de prisão foram os que investigaram os assassinatos do delegado Stênio
Mendonça e do ex-cobrador de ônibus Carlindo Sousa, que era funcionário de uma
empresa de Zé Gerardo e havia entrado na Justiça por questões trabalhistas.
Posteriormente, depois passar algum
tempo na prisão, José Gerardo virou evangélico e está novamente muito rico, por
conta de indenizações milionárias que conseguiu na Justiça.
Passados quase 20 anos, o Maranhão
assiste praticamente ao mesmo enredo supostamente envolvendo dois
parlamentares. Será que serão chamados prestar esclarecimentos? Se confirmada a
participação desses supostos parlamentares, configurando-se em quebra de decoro,
eles terão os mandatos cassados?
Diante de tudo isso, lembro-me do que
disse o hoje senador João Alberto, no auge da CPI do Crime Organizado: “É
difícil combater o crime organizado porque o mesmo tem ramificações em todos os
poderes”. Diante do que estamos vendo, mais uma vez, com o suposto envolvimento
de homens públicos nessa organização criminosa, alguém duvida do que disse o
aliado da oligarquia Sarney, que foi 90% honesto no governo?
O certo mesmo é que o crime organizado e
a política caminham juntos, no Maranhão e em todo o país. Interessa aos
criminosos contar com ‘protetores’ nas mais diversas instâncias de poder.
Políticos continuarão tendo o
financiamento do crime organizado, por meio do caixa dois de campanha que
garante muitos mandatos. Dinheiro que pode vir, também, do desvio de recursos
públicos, por meio do superfaturamento de obras e serviços.
Além disso, alguns criminosos passam a
mandar em gestões públicas porque financiaram campanhas de eleitos. Um exemplo:
o agiota Gláucio Alencar, acusado de mandar matar o jornalista Décio Sá, era
detentor de várias empresas utilizadas para fazer negócios escusos com
prefeituras, segundo revelado nas investigações policiais. Alencar está solto,
talvez ainda nesse tipo de atividade ilícita.
Portanto,
essa é apenas mais uma parte do
crime organizado que está sendo atingida pela operação gigantesca,
comandada pelo secretário Jefferson Portela, que continua em andamento.
Aguardemos os próximos capítulos.
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